Do Recife (PE) – O ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Sérgio Rezende, apontou a falta de vontade política como empecilho para não haver mais produção de energia solar no País. Ele afirmou que se houvesse políticas públicas efetivas nas três esferas governamentais, o Brasil poderia ser um dos players do setor.
“O esforço do País neste setor ainda é muito tímido. Nações com radiação solar muito menor que o Brasil, como a República Tcheca, o Reino Unido e a Bulgária, estão à nossa frente. O Brasil é apenas a 28ª potência. O segredo dos países europeus é possuir legislação e incentivos fiscais que disseminam o uso de energia solar”, afirmou Rezende, em palestra na 65ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).
Rezende mostrou que a capacidade das matrizes energéticas utilizadas no mundo não suportariam um aumento da demanda de cerca de 2% ao ano. Para ele, a situação no Brasil pode se complicar caso o consumo de energia cresça em proporção superior a do Produto Interno Bruto (PIB).
Ele alerta que passou da hora de a matriz energética brasileira ser incrementada. Após as usinas de Jirau, Santo Antônio e Belo Monte, a disponibilidade de energia elétrica de fontes hídricas no Brasil não aumentará na mesma proporção da demanda, informa o ex-ministro, que atualmente é professor do Departamento de Física da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
“Não temos como fugir. Agora é a vez da energia solar. O potencial dela no mundo é cinco mil vezes maior que a energia total usada atualmente”, destacou Sergio Rezende. “Se uma infraestrutura fosse montada em 2,5% da área de Pernambuco, e a radiação do sol convertida em energia elétrica com 13% de eficiência, teríamos energia suficiente para suprir toda o consumo no Brasil”.
Segundo o ex-ministro, uma das ressalvas da classe política para não utilizar a energia solar é o alto custo de implantação dos equipamentos para captação da radiação. Uma solução apontada por ele seria o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) para baratear os preços.
Os custos do equipamento também poderiam diminuir caso o País resolvesse produzir essa tecnologia. “Há uma série de grupos de pesquisa financiados por iniciativas públicas que formam profissionais. Eles são habilitados para trabalhar com elementos fundamentais para o desenvolvimento da tecnologia. É o caso de sensores integrados e células fotovoltaicas”, avaliou.
Além de recursos humanos, o Brasil é um dos países com maiores reservas de quartzo (SiO2) do mundo, matéria-prima utilizada para produzir o painel solar. No entanto, Rezende destacou que o mineral é utilizado apenas como produto de exportação.
Outra iniciativa que poderia alavancar a criação de um mercado nacional de energia solar é a realização de leilões para comprar energia dessa matriz. Em 2009, por exemplo, o governo federal realizou o primeiro leilão para adquirir energia gerada por catalisadores eólicos. A atitude desencadeou grandes investimentos para parques no Brasil, principalmente na região Nordeste.