A Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (Abvcap) investe em apenas 1% dos projetos apresentados à associação por ano. A informação é do vice-presidente da instituição, Clovis Benoni Meurer. De acordo com ele, a indústria de venture capital tem crescido no país, mas faltam ainda projetos consistentes com sinais claros de lucros.
“O investidor de private equity e de venture capital busca empresas com espírito empreendedor”, afirmou com exclusividade para o Gestão C&T online, na última quinta-feira (27), em Porto Alegre (RS). A instituição recebe, em média, quatro mil propostas anualmente e apenas 50 delas recebem o investimento, após rigoroso processo de seleção.
“Estamos engatinhando no mercado de venture capital, private equity e de bolsas de valores. Enquanto fechamos três negócios por ano, empresas de países emergentes fazem 100 negócios. Há recursos ilimitados para serem investidos. Nós precisamos é ter à frente desses projetos empresários preparados com vontade de ser grandes”, completa.
Criada em 2001, a instituição conta hoje com 170 membros, sendo 95% investidores do Brasil, 4% da América do Norte e 1% da Europa. No país, o maior volume de participantes – 56% está em São Paulo, seguido por Rio de Janeiro, com 25% de participação.
Para o presidente do Instituto Brasileiro do Mercado de Capitais (Ibmec), Thomás Tosta de Sá, para a expansão do venture capital no Brasil será fundamental a aplicação de recursos da poupança previdenciária na modalidade, modelo crucial para a ampliação do setor nos Estados Unidos.
“O crescimento do venture capital no Brasil só será desenvolvido com esta poupança de longo prazo”, afirmou durante o 21º Seminário Nacional de Parques Tecnológicos e Incubadoras de Empresas, realizado na capital gaúcha, de 25 a 28 de outubro.
No país norte-americano de 1945 a 1975, a captação de venture capital patinava em U$ 10 milhões. Após a implementação de uma legislação que regulamentou a aplicação da poupança previdenciária na modalidade, o valor alcançou, em 2000, U$ 100 milhões.
“O venture capital é fundamental para a promoção da inovação e da tecnologia no país”, lembrou Tosta de Sá. Ainda segundo ele, a performance de empresas apoiadas por este instrumento que entram na bolsa de valores é muito superior quando comparada a de empresas inseridas no mercado sem o seu apoio.
Mercado em expansão
Na avaliação de Clovis Meurer, a indústria de venture capital, o braço mais jovem do mercado de capitais do Brasil, melhorou muito no país ao longo da década, resultado de uma maior establilidade financeira e tendências claras de redução de juros a longo prazo.
“O Brasil é um país de mais segurança, o que tem atraído muitos investidores. Existe um mercado demandante muito grande e as classes “C” e “D” estão mais atuantes no mercado consumidor. Isso tudo gera mais negócios e consequentemente o volume desses investidores aumenta”, analisa.
Ainda na opinião dele, as oportunidades de investimento no Brasil são inúmeras, passam pelo mercado de óleo e gás, infraestrutura, serviços e os eventos esportivos. “Quando há bons setores para explorar, os investidores entram com mais facilidade e com mais vontade de fazer investimentos. No Brasil, os grandes investidores que surgiram nos últimos anos foram os fundos de pensão, mas hoje há um olhar mais atencioso para o setor de venture capital”.
Também na avaliação de José Eduardo Azevedo Fiates, diretor geral da Cventure, companhia privada de gestão de recursos controlada por organizações sem fins lucrativos, os empreendedores nacionais precisam estar atentos a cadeias estratégicas e empresas líderes. “Fármacos, petróleo e gás e biotecnologia são setores que vão crescer. É preciso entender e enxergar novos empreendimentos, possivelmente investidos por venture capital, que podem se inserir nesse processo”, listou.
Criada há quatro anos, a proposta da Cventure é aproveitar os processos eficientes de geração de deal flow de empresas dentro dos laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, com apoio a todo o sistema de inovação que envolve institutos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), universidades, parques tecnológicos, incubadoras, empresas incubadas, entre outras.
“Os nossos ambientes de inovação, as incubadoras e os parques, são absolutamente cruciais e serão cada vez mais fundamentais para alimentar esse deal flow das empresas de venture capital”, apontou. Somente em Florianópolis (SC), a Cventure já investiu recursos da ordem R$ 40 milhões.
Entretanto, Fiates chamou atenção para a burocratização do processo que pode frear o ritmo crescente de investimentos no país. “Se nós começarmos a discutir os direitos intelectuais na hora que o pesquisador está começando a gerar a sua ideia, vai matar o procedimento. Temos que criar uma cultura de desburocratização”, avisou.
Segundo ele, nos casos de sucesso de venture capital nos EUA o que existe é a liberdade de fomento à cultura. “Sabe-se que o resultado vem depois. Não é na hora do surgimento da ideia que se assina acordo de propriedade intelectual”, conclui.
(Cynthia Ribeiro para o Gestão C&T online)