O novo diretor do Instituto Agronômico (IAC), Marco Antônio Teixeira Zullo, em entrevista exclusiva ao Gestão C&T online, diz que o instituto com 121 anos “é uma instituição jovem pelo espírito inventivo de seus pesquisadores”.
Zullo destaca que a credibilidade do IAC atrai jovens talentos de diversas áreas do conhecimento “e tem havido um esforço do governo no sentido de mantê-los na pesquisa paulista, apesar do assédio de outras instituições e empresas privadas”.
Para ele, com a promulgação da Lei Paulista de Inovação, novas oportunidades estão sendo abertas para inserção no mercado nacional dos produtos e processos desenvolvidos pelo IAC. Confira, na íntegra, a sétima entrevista da Seção Impressão:
O senhor assumiu a diretoria do IAC no final de outubro. Que prioridades o senhor destacaria para essa nova gestão?
Em nosso trabalho daremos continuidade aos programas de revitalização dos institutos de pesquisa e de credenciamento e certificação dos laboratórios, adotados pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento neste ano de 2008. Essa ação do governo envolveu recursos complementares na ordem de R$ 11 milhões, destinados aos seis institutos de pesquisa agropecuária da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios [Apta], da secretaria estadual.
Destacamos a continuidade desses programas porque a revitalização e o credenciamento são fundamentais para o bom desempenho nas pesquisas desenvolvidas nos seis institutos ligados à Apta e isso vale também para o Instituto Agronômico. Os recursos estão disponíveis para execução, que requer grande movimentação interna no sentido de dar providências às obras e à aquisição de equipamentos. Por exemplo, temos que dar andamento às atividades de licitação, compras e execução de obras.
Esses investimentos compreendem a política do governo do Estado de oferecer serviços de qualidade para a sociedade e, nesse sentido, é fundamental que as instituições de pesquisa caminhem, permanentemente, rumo à melhoria da estrutura física e humana.
A nossa gestão empreenderá esforços também com foco na implantação de uma política de inovação tecnológica, promovendo a qualificação de nosso pessoal sob o aspecto da legislação que envolve o tema e as oportunidades decorrentes da inovação. É preciso destacar na instituição os benefícios resultantes da proteção de nossas tecnologias e isso passa pela cultura da inovação tecnológica. Vamos incentivar também a intensificação da cooperação com outras instituições de pesquisa nacionais e internacionais.
O IAC está com 121 anos. Que experiências positivas e negativas, principalmente no tocante à gestão, o senhor poderia citar como exemplo para outros institutos de pesquisa agronômica e tecnológica e que estão vinculados a governos estaduais como o IAC?
Com 121 anos, o IAC é uma instituição jovem pelo espírito inventivo de seus pesquisadores. Com a promulgação da Lei Paulista de Inovação abrem-se novas oportunidades para inserção no mercado nacional dos produtos e processos desenvolvidos pelo IAC. Nesse período de transição entre a forma tradicional de divulgação de resultados da instituição e a forma que se abre com a nova legislação há um esforço no aprimoramento de gestão dos resultados científicos, seja no âmbito administrativo, seja na esfera prática do fazer ciência. Isso porque o aparato de uma nova legislação pode modificar inclusive a programação científica das instituições, já que essa pode ser influenciada por novas relações com a iniciativa privada e por políticas públicas que estão por vir.
Em entrevista concedida ao jornal Valor Econômico, o senhor disse que o instituto fechará 2008 com um orçamento de R$ 30,5 milhões. Quanto deverá ser o orçamento do IAC em 2009? Que outras fontes de recursos, além do governo estadual, o instituto possui?
Para 2009, esperamos um orçamento na ordem de R$ 35 milhões – isto como repasse do governo estadual. Além do recurso do Tesouro, temos investimentos das agências de fomento, como Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), CNPq, Finep e Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos). Este ano, até outubro, esses recursos externos somaram R$ 18 milhões. Para 2009, a expectativa é ampliar essa captação externa, especialmente nas áreas de pesquisas com cana-de-açúcar, citros e café.
Na mesma entrevista, o senhor disse que hoje o instituto conta com 212 pesquisadores, com uma idade média de 32 anos, sendo 80% deles com doutorado. Como o IAC conseguiu esse quadro tão jovem e tão capacitado, já que a maioria dos institutos passa justamente por problemas de pesquisadores em fase de aposentadoria, ou já aposentados, e sem condições de adquirir novo quadro?
A média de 32 anos é referente ao novo grupo de pesquisadores, que representa um terço do total e que entrou há quatro anos na instituição. Em 2004 e 2005, 75 novos pesquisadores foram contratados por meio de concurso público realizado pelo governo estadual. Essa entrada ocorreu após 15 anos sem contratações e realmente houve uma grande renovação em nossa equipe. Embora jovens, os pesquisadores que ingressaram têm em seus históricos muita experiência e titulação acadêmica.
Hoje, 81% de todos os nossos pesquisadores têm nível de doutorado e os demais têm mestrado. A credibilidade do IAC atrai jovens talentos de diversas áreas do conhecimento e tem havido um esforço do governo no sentido de mantê-los na pesquisa paulista, apesar do assédio de outras instituições e empresas privadas.
Em nosso quadro temos também pesquisadores visitantes, que vêm de outras regiões do país e do exterior. Há ainda os pós-doutorandos e mestrandos que se integram à equipe, além de muitos de nossos pesquisadores que se aposentam e continuam no instituto como voluntários. A estes a pesquisa deve um agradecimento especial, justamente por continuarem oferecendo aos jovens a oportunidade de aprender ainda mais com quem tem longas e ricas experiências.
Como o senhor vê o agronegócio brasileiro? E, neste cenário, como o senhor vê a participação das instituições de pesquisa, das unidades da Embrapa, das Oepas, entre outras, no desenvolvimento deste setor no país?
O cenário do agronegócio brasileiro traz elementos diversos que por si só remetem a incertezas – colhemos safra recorde de grãos em 2007/2008, acompanhamos a alta nos preços das commodities agrícolas e no custo de produção. A dúvida para a próxima safra surge com a crise econômica mundial. Seja qual for o quadro, a necessidade do apoio advindo da pesquisa agronômica é certa.
Em toda e qualquer realidade do agronegócio, o sucesso do agricultor e dos demais elos das cadeias produtivas está intimamente ligado aos sistemas de produção adotados. E aí está a ligação com a pesquisa, com o Instituto Agronômico e os demais institutos da APTA e outros órgãos da Secretaria da Agricultura. E o mesmo vale para a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), o Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) e todas as outras instituições da área tão importantes para as lavouras brasileiras. Crescem as preocupações com a necessidade de ampliar a produção de alimentos e, ao mesmo tempo, preservar o ambiente. A solução para essas questões está na pesquisa. De todos nós agentes da ciência depende essas soluções esperadas. Daí a relevância do trabalho interinstitucional e da interação com o setor produtivo, somando recursos e competências. Pois temos os mesmos problemas e precisamos das mesmas soluções.
O IAC é um dos institutos da Apta, que é uma entidade associada à ABIPTI. Como o senhor vê a atuação da Apta, que é uma associação estadual, e que sugestões o senhor teria para a atuação dessa instituição?
A Apta é uma coordenadoria dos institutos de pesquisa agropecuária do Estado de São Paulo. Ela congrega os seis institutos – Instituto Agronômico, Instituto Biológico, Instituto de Economia Agrícola, Instituto de Pesca, Instituto de Tecnologia de Alimentos e Instituto de Zootecnia, além de um departamento orientado para promover o desenvolvimento regional, em 15 localidades do Estado, a partir dos resultados científicos dos institutos de pesquisa.
Uma importante função da Apta é promover a integração dos diversos programas da pesquisa agropecuária desenvolvidos em suas unidades, de maneira a otimizar a aplicação de recursos humanos e financeiros, viabilizando resultados com tratamento integrado dos diferentes fatores que afetam a produção. Assim, o trabalho entre essas unidades de pesquisa é intimamente desenvolvido, contribuindo também para a consecução das diretrizes de políticas emanadas da Secretaria de Agricultura Estadual.
(Fabiana Santos para o Gestão C&T online)